Templo Busshinji

> Antigo templo budista de Reiroukan, mais velho que a própria Academia. Para alcançar o templo propriamente dito, deve-se subir um lance de escadarias e atravessar um grande pátio.
> Domínio da facção Byakko

*As aulas sequer tinham começado ainda, mas Kariya já estava de volta ao seu domínio. Ele nunca tinha saído, para falar a verdade. Um tigre nunca abandona seu território, não importa o que aconteça.

Foi fácil para ele conseguir abrigo no templo, o único monge que ali vivia tinha morrido no ano passado, e então seu mestre foi nomeado o novo responsável. A única coisa que o lutador precisava fazer para que os habitantes da cidade não o incomodassem era manter tudo limpo e organizado. E sumir com os membros de sua facção durante as festividades religiosas.

Sua facção... Ele ainda não tinha se acostumado muito com aquilo, embora adorasse sua nova posição.

Sawamura Kariya, o Tigre de Aço, líder da Byakko.

O jovem lutador abriu as portas do templo, caminhou até o imenso pátio de pedra, parou e respirou fundo, sentindo o ar do novo ano que começaria em breve. Quantos lutadores novos apareceriam diante dele? Quantos seriam inimigos? Quantos seriam aliados?*

- É impressionante como as coisas ficam tediosas quando a escola está fechada... *Disse Kariya enquanto se espreguiçava, estendendo seus braços para cima e alongando suas costas, fazendo sua coluna estralar.* - Onde estariam os outros líderes? Será que apenas o Tigre decidiu ficar em seu território?

*Um sorriso malicioso surgiu no rosto de Kariya assim que uma leve brisa passou por seus cabelos.*

- Isso não seria muito a cara deles...

*Dizendo isso, Kariya fechou seus punhos quase que sem perceber. O ano ainda nem tinha começado, mas seu espírito de combatente já estava despertado.*

*Sentindo uma agitação na aura do Templo, Khalan sessou sua meditação de decidiu ver o que estava acontecendo no pátio de pedra. Na realidade ele apenas precisava confirmar suas suspeitas, uma vez que já tinha alguma ideia do que estava acontecendo.

Abriu a porta corrediça de seu quarto e logo deu de cara com as costas do seu discípulo, cujo qual estava com os punhos serrados e emanava uma aura que misturava violência e determinação ao mesmo tempo.*

- Kariya... Esqueceu tudo que eu lhe ensinei sobre controlar suas emoções?

*Khalan chamou com sua voz parecida com um trovão, cruzando seus braços extremamente musculosos e fixando seu olhar no jovem Nak Muay*

- Só de se imaginar em uma luta você já transborda agressão, respire, o Caminho do Lutador não é apenas violência, e você sabe disso.

*Terminou de falar apontando seu dedo para o jovem, como se mostrasse que ele já sabia qual o significado do Caminho dentro de si.

*Kariya se vira para ficar frente a frente com seu mestre. Seria muito rude conversar com ele estando de costas, e embora Khalan fosse rude ele mesmo a maior parte do tempo, o mestre de Muay Thai odiava que os outros lhe faltassem com o devido respeito.*

- Não Kru Somchai, não esqueci. *Kariya respondeu após fazer uma leve reverência, juntando suas mãos em frente ao seu rosto como se fosse uma prece.* - Não desejo apenas violência, desejo a glória também, e quem sabe, testar a força daqueles outros três.

*Kariya então voltou a virar suas costas para o seu mestre, e apontou para a direção da Academia Reiroukan. Um sorriso animalesco se formou em seu rosto, e seus olhos, mesmo que por apenas alguns instantes, ficaram iguais aos de um tigre.*

- O Caminho do Lutador não é a violência, o Caminho do Lutador é a glória! E é isso que eu vou conquistar em Reiroukan!

*Khalan caminhou até ficar ao lado de seu pupilo. Ele ainda tinha muito o que aprender, mas era muito talentoso, isso qualquer um podia perceber. Não haviam mais traços daquela criança de anos atrás. Khalan tinha criado um lutador excelente.*

- Em sua busca por essa tal glória você irá perceber que existem mais curvas nessa estrada do que você jamais imaginou.

*O mestre disse por experiência própria. Era engraçado como ele se via em Kariya. Jovem, talentoso, forte, arrogante, sedento por fama e glória. Mas talvez, com um pouco de sorte, seu pupilo não teria que passar pelo que ele mesmo passou para que pudesse retomar o verdadeiro Caminho do Lutador*

- E onde estariam os seus amigos que sempre ficam aqui depois das aulas?

- Aqueles vagabundos foram para suas casas durante as férias e ainda não voltaram.

*Kariya respondeu seu mestre, se encostando em uma das grandes colunas de madeira envolta do pátio. Ele não conseguia entender como seus subordinados podiam querer voltar para casa com tantas coisas que poderiam ser feitas para que a Byakko tomasse a dianteira em relação às outras facções, mas já que os outros líderes enfrentavam o mesmo problema, ele nunca impediu que um dos integrantes de sua facção passasse um tempo em casa, por mais que isso o desagradasse muito.*

- Poderíamos estar analisando as bases inimigas, poderíamos planejar operações dentro da escola, ou simplesmente poderíamos treinar para melhorar as merdas das nossas técnicas!

*Dizendo isso, Kariya fechou seu punho direito, e em menos de um segundo, incendiou seu Ki de forma que sua força fosse elevada, e enterrou sua mão na coluna de madeira até o cotovelo, puxando seu braço logo depois de o estrago ter sido feito.*

*Khalan ouviu atentamente o que Kariya dizia, e resolveu não opinar. Ele deveira entender aquelas coisas óbvias por si mesmo. Decidindo isso, o monge resolveu mudar de assunto rapidamente, e achou melhor fazer uma observação, um elogio na realidade.*

- É incrível a maneira como você dominou a técnica Kaiho em tão pouco tempo... Eu mesmo levei cinco anos para dominá-la, você levou metade do tempo.

*Percebendo que Kariya tinha aberto a boca para falar, Khalan se adiantou e o interrompeu, sabendo exatamente o que ele iria dizer a seguir. Eles já tinham tido aquela conversa várias vezes antes, na Tailândia e no Japão também.*

- Você ainda não está pronto para a técnica dos 18 Arhats, seus fundamentos são muito mais profundos do que a sua compreensão lhe permite enxergar. *Khalan disse quase gritando. Sim, fazê-lo perder a paciência era fácil assim*

*Kariya sorri de canto, sem deixar que seu mestre perceba. Khalan realmente o conhecia muito bem... Depois de ter visto em primeira mão a potência da técnica dos 18 Arhats, Kariya importunava Khalan dia e noite para que ele o passase aquele Santo Graal dos Nak Muays, mas Khalan estava relutante ao extremo, tanto que o jovem lutador passou a importuná-lo um pouco menos.*

- Mas Kru Somchai, como pode dizer isso se faz tanto tempo desde que treinamos ao modo tailandês tradicional?

*Kariya perguntou, avançando sua perna esquerda e levantando suas mãos na altura do queixo, colocando-as à frente de seu corpo. A postura de combate de um lutador de Muay Thai. Ele sabia que seu mestre não resistiria àquele pedido, que mais soou como um desafio.*

*Khalan, fazendo exatamente o que seu discípulo tinha previsto, caminhou até ficar a meio metro de distância, e também adotou a postura de luta do Muay Thai. Realmente fazia um certo tempo desde que os dois tinham tido uma pequena prática conjunta.*

- Muito bem então, Kariya. Mostre-me o quanto evoluiu durante o último ano.

*Khalan estreitou seus olhos, tensionou seus músculos e logo depois os relaxou, ficando pronto para o combate instantaneamente.*

- Regras antigas do Muay Kaad Chuek! Começe!

*Aproveitando o momentum criada por sua combinação, Khalan decidiu colocar à prova a evolução de seu aprendiz. Suas pernas estavam bem abertas, em uma posição muito ampla, perfeita para um golpe com salto. Khalan respirou fundo e concentrou todo o seu Ki em seu plexo solar, o ponto que espalhava energia para todo o restante do corpo.*

- Kaiho! Tora no Tamashii!

*Rugindo aquelas palavras, todo o Ki de Khalan explodiu de forma violenta, espalhando-se por todos os músculos de seu corpo, aumentando sua força de uma forma absurda. Sentindo isso, saltou e atacou com seu joelho esquerdo, em uma joelhada que almejava a garganta de Kariya.*

*Kariya não era um especialista em manipulação de Ki, mas qualquer um poderia sentir a quantidade absurda de energia que tinha vindo de uma só vez do corpo de seu mestre. Ele já sabia o que estava por vir antes mesmo de Khalan dizer aquelas palavras. Isso lhe deu tempo para conseguir pensar no que fazer, mas ele teria de ser rápido. Se aquele golpe o atingisse, Kariya poderia dizer adeus para a técnica 18 Arhats para sempre...

- Kaiho! Tora no Tamashii!

*Kariya saltou da mesma forma que seu mestre, erguendo seu joelho direito como se quisesse também acertar a garganta de Khalan. Um ataque usando aquela técnica de liberação não poderia ser esquivado, muito menos bloqueado, a única saída era combater fogo com fogo.

Os dois joelhos se chocaram enquanto os lutadores ainda estavam no ar, e uma massa de ar foi arremessada com violência para todos os lados, fazendo com que algumas rachaduras se abrissem nas colunas de madeira ao redor do pátio, bem como no portão de madeira do Templo, como nas paredes e até mesmo no chão de pedra. As folhas que estavam caindo das árvores se partiram em vários pedaços, e as que já estavam no chão foram erguidas no ar, apenas para se partirem logo em seguida.*

- Usando uma técnica ofensiva para se defender... Sua mente é mesmo a de um lutador nato.

*Khalan disse assim que seus pés tocaram o chão. O mestre respitou fundo, relaxou seus músculos e saiu de sua posição de luta, ele já tinha visto o que queria. Seu alun estava mais forte, e pensando como um guerreiro deveria pensar, mas não estava nem um pouco mais perto de estar pronto para a técnica 18 Arhats.*

- Você dominou bem a arte da Kaiho...

*Kariya nem ouviu o que seu mestre tinha para dizer, e reiniciou seus ataques. Primeiramente se agachou, saltando logo em seguida, esticando seu braço e atingindo o queixo de seu mestre com um uppercut, então, assim que seus pés tocaram o chão, girou o corpo e esticou sua perna direita, na intenção de atingir a cabeça do monge com o seu calcanhar, em um chute giratório.*

- Kaiho!

*Mais uma vez a explosão de Ki foi intensa, mas como não havia outra força igual para se chocar, não ouve um deslocamento de ar ou coisa parecida, mas ainda sim, a natureza ao redor pareceu reagir, com o vento soprando a favor do movimento de Kariya, com força o suficiente para que seu som fosse semelhante à um rugido.*

- Tora no Tamashii...